Pelo fim das cotas para o cadastramento de novos doadores de medula óssea no Brasil.

É muito difícil convencer uma pessoa a SE CADASTRAR como doador de medula óssea.

A grande maioria se sente tocada pela causa, mas não ao ponto de ir até o hemocentro realizar o cadastro. Se você trabalha com vendas, você sabe como é desafiador convencer alguém a comprar um produto, até mesmo online, que exige pouquíssimos cliques. Agora imagine o quão difícil é fazer com que alguém dirija até um determinado local, com o objetivo de se cadastrar para, quem sabe um dia, doar medula óssea!

Sabendo disso, vários países do mundo FACILITARAM esse processo, desenvolvendo um kit de cadastramento que a pessoa recebe no conforto do lar. Com o kit, você faz o teste em casa, em segundos, coletando material da bochecha! O kit vem com um envelope de retorno, já endereçado e pré pago.

No Brasil, o cadastramento ainda é feito no hemocentro. Apesar de ser um processo super rápido e simples (como um exame de sangue de rotina), ele não elimina o maior desafio das campanhas mundiais: convencer as pessoas a irem até um determinado local.

Hoje recebi uma notícia que me deixou no mínimo chocada, para não dizer revoltada.

Uma criança de Santa Catarina, recebeu o diagnóstico de uma doença genética séria, cuja única chance de cura é o transplante de medula óssea.

A mãe do menino começou então a fazer aquilo que a maioria das famílias faz, divulgar e fazer campanha para incentivar o cadastramento de novos doadores.

A chance do filho dela, do meu ou do seu, encontrar um doador de medula compatível é de UM em CEM MIL. Você faz ideia do desespero?Por isso as campanhas de cadastramento são tão importantes.

Mas olha só... com a campanha dessa família, muitas pessoas da região onde eles moram, foram até o hemocentro local para se cadastrarem. Chegando lá, elas receberam a notícia de que não poderiam se cadastrar.

Por que? PASMEM, cada hemocentro tem uma cota máxima de cadastros por ano.E, aparentemente, o hemocentro da região já bateu a cota e portanto não estão realizando novos cadastros no momento.

Quando me contaram, achei que se tratava de algum erro de comunicação, isso não poderia ser verdade.

Entramos em contato com o REDOME, que é o órgão nacional responsável pelo cadastramento de doadores de medula óssea.

Antes de continuar com a história, faço questão de mencionar que essa rede de cadastro é UNIVERSAL. E embora as estáticas mostrem que é muito mais fácil um paciente encontrar um doador compatível dentro da própria família (pais, irmãos, etc), existem milhares de casos em que o doador reside em um país completamente diferente!Aumentar o número de cadastros é um objetivo coletivo, MUNDIAL!

Ao falarmos com o pessoal do REDOME, descobrimos que funciona assim:

O Ministério da Saúde estabelece cotas anuais para cada região, baseado em alguns fatores (população etc).

Cada hemocentro escolhe como quer trabalhar com essa cota. Alguns dividem por mês, outros por semestre, por aí vai.Quando essa cota é atingida, encerram o cadastramento naquele hemocentro.O que é um ABSURDO!

Quando questionamos a razão por trás disso, fomos informadas de que cada hemocentro recebe o material ($) certo para um número X de cadastros. Ultrapassado o número de cadastros, não há mais material ($).

Essa norma foi estabelecida em 2012, pela portaria número 844/2012 do Ministério da Saúde. E, desde então, temos esse limite absurdo para novos cadastros.

Rodando a internet, encontrei um posicionamento da OAB, que afirma que a restrição de novos cadastros de doadores de medula, por cota, é ilegal. Porém, essa medida ainda está de pé, sendo aplicada pelo Ministério da Saúde.

Voltando para a história da família do menino de Santa Catarina, a imprensa local entrevistou a equipe do hemocentro de Blumenau, que informou que a família do garoto não precisa se preocupar. Segundo a entrevista, o menino não seria afetados, já que depois que uma pessoa se cadastra como doador, demora de 4 a 6 meses para o mapeamento genético ser concluído e o cadastro entrar no sistema. E como o garoto precisa encontrar um doador antes disso, para ele seria indiferente.

Oi?

Dizer que essa resposta me embrulhou o estômago é pouco!Veja bem, não estamos falando de UM caso, de seis casos, de vinte casos. Todos os dias, no mundo inteiro, milhares de pessoas recebem o diagnóstico de câncer “no sangue” ou de outras doenças hematológicas graves. E em MUITOS casos, o transplante de medula é a maior chance de cura desses pacientes!

Segundo o INCA, apenas em 2018 o Brasil teve vinte e um mil e seiscentos NOVOS diagnósticos de leucemia apenas, sem incluir outras doenças hematológicas fatais.

São 2,4 NOVOS diagnósticos de leucemia por HORA, no Brasil!

Essa é uma luta GLOBAL. Não podemos permitir cotas. Não bastasse o desafio de convencer uma pessoa de ir até o hemocentro, ainda precisamos driblar as cotas?

Como mãe, mulher e empresária eu me coloco na linha de frente para ajuda a mudar esse cenário. Seja contribuindo ($) para compra de material de coleta, seja fazendo barulho, seja aqui, buscando assinaturas.

Eu já enviei um e-mail para o Ministério da Saúde e deixei uma mensagem no instagram do @minsaude, relatando (com respeito) a minha indignação e repúdio por essas cotas. Se temos pessoas dispostas a se cadastrarem como doadores de medula óssea, nós VAMOS, PRECISAMOS, DEVEMOS, CADASTRA-LAS! 


 

 #Épossivel